sexta-feira, 14 de junho de 2013

Mudanças linguísticas do latim ao galego-português

Dissemos anteriormente que a língua portuguesa é uma língua neolatina, o que significa dizer que é o próprio latim diversificado de suas origens. Inicialmente o latim era uma língua tosca e rude, mas foi gradativamente, absorvendo os demais falares itálicos, à medida que o Império Romano se expandia.
O idioma, a exemplo do que ocorre com todas as línguas, não era rigorosamente uniforme. Revestiu se de dois aspectos que ,com o passar do tempo, tornaram se cada vez mais distintos: o clássico e o vulgar.O latim clássico, chamado pelos romanos de sermo urbanus, era a íngua literária , conservadora e resistente às inovações, que buscava a correção gramatical e estilística; caracterizava se pelo apuro do vocabulário e pela elegância do estilo. Conhecida como uma língua artificial e rígida, porém polida e requintada. Sinônimo de prestígio, a língua era praticada por uma elite e usada nas escolas e nas obras dos grandes escritores latinos, como Cícero, César, Virgílio e Horácio A expressão latim vulgar refere se à língua com todas as suas variedades. Era usado pelo povo, sem preocupação com a correção gramatical. Era uma variedade falada que servia de instrumento de comunicação diária, com finalidades práticas e comerciais .Também chamado de sermo vulgaris, foi levado pelos soldados, colonos e funcionários romanos a todas as regiões do Império Romano. Sujeito a influências locais de costumes, raças clima e outros fatores, o latim vulgar veio a fracionar se em diferentes dialetos, o que resultou, logo a seguir, nas línguas românicas.
O estudo do latim vulgar pode ser feito de duas maneiras. Uma delas é a reconstrução linguística, isto é, da comparação entre as diferentes línguas românicas, observando se as evoluções características de cada uma é possível reconstruir o étimo latino, ou seja, a forma original comum a todas elas. Outra maneira de conhecer o latim vulgar é através de algumas atestações escritas como os graffiti de Pompeia cartas pessoais correção das formas errôneas usuais pelos gramáticos (Appendix Probi); vulgarismos em obras de comediógrafos, por meio da retratação de personagens populares (Satiricon); inscrições em lousas confeccionadas por artistas plebeus; erros ocasionais dos próprios escritores cultos principalmente dos últimos tempos (escritores da ecadência romana escritores pagãos). Alguns documentos também atestam essa variedade do latim: Perigrinatio ad loca sancta (Sancta Aetereae)– séc. IV, Mulomediinz Chironis (Tratado de veterinária) – séc. V De Architetura Séc. I; De Medicam pecorum–séc. IV;Vulgata (Trad da Bíblia por São Jerônimo); as glosas: espécie de dicionário (glossário para leitura dos autores latinos. As palavras desconhecidas do povo aparecem nessas glosas acompanhadas das formas correspondentes semânticas mais familiares e tomadas à língua viva da época.

Embora se tratasse da mesma língua, as variedades clássica e vulgar do latim apresentavam diferenças na fonética, na morfologia, no léxico e na sintaxe e a presença de características de uma ou de outra variedade atesta a origem das línguas românicas
É importante ressaltar que algumas características existiam também no latim clássico, mas se acentuaram no latim vulgar.
Além de latim clássico e vulgar, havia outras modalidades do latim, como o baixo latim, intermediário entre o clássico e o vulgar. Nessa variante foram escritos os trechos bíblicos e em que foi divulgada a doutrina cristã A variante familiar era usada nas conversações e nas cartas das pessoas instruídas Diversos autores como Leite de Vasconcelos, Ismael Coutinho e Carolina Michäelis, estabelecem o século IX como o estágio de definição do romanço galaico português, língua corrente, falada a princípio na região noroeste da Península Ibérica e levada, depois, com o movimento da Reconquista, para o sul.
Nessa época, documentos escritos em latim bárbaro atestam a existência de palavras e expressões do romanço galaico português, apenas falado: estrata (estrada, lat. via), conelio (coelho, lat. cuniculum), artigulo (artigo, lat articulum), ovelia (ovelha, lat ovicula). São documentos públicos, testamentos, doações, contratos de compra e venda e também documentos jurídicos, como cartas, leis forais, inquirições sobre propriedades, todos escritos em cartórios, naquele latim bárbaro, tabelionário, pretensiosamente gramatical

mas, na verdade, estropiado, inorgânico, mistura de formulários tabeliônicos com locuções e vocábulos do romanço, numa forma pseudolatina.
 
Vejamos um testamento escrito em 1177, em que Dona Urraca Pedro deixa alguns bens à Igreja do antigo Mosteiro de São Salvador do Souto, localizada em Braga Guimarães, Souto.

 
Em português de hoje:
 
 
 
 
 
 

 

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