sexta-feira, 14 de junho de 2013

A alfabetização na Idade Média.

É errado pensar que a queda do Império romano do Ocidente mergulhou a Europa em uma era de
trevas.

Durante a Idade Média, importantes avanços foram alcançados, entre os quais vários vinculados à história da alfabetização.

O processo de letramento da antiguidade, baseado em decorar as letras e o seu valor fonético, implicava em grande dificuldade de aprendizagem, formando leitores hábeis na soletração, mas que só conseguiam entender o texto com grande esforço.

O que sofreu uma profunda modificação, justamente, durante o período medieval.

A soletração foi substituída por um novo método que usava tabuletas com o alfabeto gravado, frequentemente carregadas pelas crianças com um jogo, penduradas por uma corda a cintura ou ao pescoço.

A alfabetização foi transformada em uma brincadeira que fazia a criança apreender aos poucos com este precursor da cartilha.




 
Gradual e constantemente as letras eram incorporadas ao universo infantil.

Entretanto, a adoção do latim como língua culta em toda Europa Ocidental, fazia com que as crianças fossem alfabetizadas dentro deste contexto e não em sua linguagem corrente regional.

Isto representava uma dificuldade que criava, constantemente, desinteresse.

De qualquer modo, as tabuletas com alfabeto é o que mais se aproximava das cartilhas, pois elas só surgiriam no século XV, depois da invenção da imprensa por Gutenberg em 1455.

O aparecimento da imprensa barateou a edição de livros, ampliando o numero de leitores e a demanda pela alfabetização.

Este foi incentivo que multiplicou novos métodos de letramento, tal como seria criado por Comenius em 1655, o qual consistia em apresentar palavras associadas a uma representação

Foi dentro deste espírito que surgiu em 1522, por exemplo, o primeiro caderno de caligrafia, pensado pelo italiano Lodovico Arrighi.

É bom lembrar que, durante a Idade Média, o livro foi praticamente uma exclusividade da Igreja Católica na Europa.
Um cotidiano brilhantemente retratado do filme O nome da rosa, baseado do livro de Umberto Eco.


Os mosteiros eram guardiões do saber, possuindo em seu interior bibliotecas com livros copiados a mão e ricamente ornamentados com iluminuras.

 
A imprensa conseguiu quebrar este monopólio, mas antes que fosse inventada, a dificuldade de acesso aos livros, restringiu a alfabetização a uns poucos elementos da nobreza e ao clero.

Os centros de educacionais eram católicos e restritos aqueles que queriam seguir a carreira eclesiástica ou tinham sido compelidos pela família.

Dentro do contexto medieval somente o filho homem mais velho herdava o título de nobreza do pai e seus bens, aos irmãos mais novos restava procurar aventura como cavaleiro errante ou entrar para a vida religiosa.

Para as mulheres, o dote que precisava ser pago ao futuro marido pelo casamento, fazia as famílias da nobreza optar por casar apenas a mais velha, forçando as irmãs a serem freiras.

A vida eclesiástica era praticamente a única oportunidade de ser alfabetizado, daí a imensa maioria da população europeia ser analfabeta, incluindo camponeses e nobres.

Existem documentos que dão conta que, mesmo na entrada da modernidade, quando começaram a se formar os primeiros Estados Nacionais, mesmo reis foram analfabetos.

Estes reis mantinham bibliotecas, mas não sabiam ler, daí a importância das iluminuras e ilustrações, em um mundo que imagens comunicavam a um número maior de pessoas eu as palavras.

Um panorama que só começou a mudar com o fim dos resquícios medievais que permaneceram na Idade Moderna, quando o latim começou a ser abandonado em favor das línguas nacionais.
René Descartes foi o pioneiro, escrevendo o Discurso do Método em francês no século XVI.

Um processo que foi complementado pela Revolução Francesa e o iluminismo, quando o ensino publico e gratuito, fornecido pelo Estado, tornou-se um direito de todos.

O que fez parte também das ideias do liberalismo inglês, com a educação assumindo o papel de equalizadora de oportunidades.

No entanto, quando os portugueses chegaram ao Brasil, este processo de mudança na Europa ainda não havia acontecido, Portugal tinha um dos pés na Idade Média e o outro na Moderna.
 

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